Movimento Zero Waste: entenda os fundamentos da sustentabilidade
O movimento Zero Waste fala essencialmente sobre desperdício e faz parte do guarda-chuva de temas de interesse público global em meio ambiente.
A ação visa minimizar as consequências da ação humana nos ecossistemas por meio de práticas que incentivam os ciclos naturais sustentáveis. Repensar materiais e processos, reduzir o uso de matérias-primas, incentivar políticas que garantam o descarte adequado de resíduos estão entre suas bandeiras.
Fique conosco, saiba tudo sobre o Movimento Zero Waste e entenda porque a iniciativa impulsiona a transição de um modelo produtivo linear para uma economia circular.
Esse artigo faz parte da série da MJV sobre sustentabilidade corporativa e desenvolvimento sustentável. Conheça também os blog posts sobre diversidade, ESG e nosso manifesto!
O que é o movimento Zero Waste?
O movimento Zero Waste (desperdício zero, em inglês) é uma iniciativa em prol de uma sociedade com menos desperdício e persegue, em última instância, a conscientização ambiental por meio de ações que incentivem a construção de ciclos naturais sustentáveis.
Inicialmente surgido na década de 1970 e consolidado nos anos seguintes pela Zero Waste International Alliance (ZWIA), o projeto tem como principal temática o lixo e a redução de resíduos. O objetivo é evitar que os resíduos terminem sendo incinerados ou mandados para aterros sanitários.
De acordo com o ZWIA, o conceito visa fomentar a economia circular, transformando linhas de produção lineares em ciclos, otimizando o aproveitamento de recursos, reduzindo o desperdício e endereçando resíduos recicláveis e orgânicos para os locais de descarte corretos.
Os Rs da sustentabilidade
A discussão em torno do tema da sustentabilidade tomou forma ao longo dos anos, entrou nas pautas globais de organizações como as Nações Unidas e entrou na pauta de líderes globais.
Isso tudo começou com 3 princípios básicos, que podem ser traduzidos pelas palavras reduzir, reciclar e reutilizar. Esses valores ficaram conhecidos como os 3Rs da sustentabilidade e foram fundamentais na consolidação da discussão ambiental.
Com o avanço do debate e escalada de importância do tema, tornou-se consenso de que apenas os processos de reciclagem não foram suficientes para frear o andamento do consumo – e não abarcavam todo o arcabouço de questões complexas sobre o tema.
Hoje, especialistas e entusiastas do tema consideram nada mais nada menos que 7Rs relevantes no debate, que colaboram não só para a construção de uma economia circular, como chamam à reflexão por atitudes individuais de reúso e até mesmo não-consumo. São eles:
- Reduzir
- Reciclar
- Reutilizar
- Repensar
- Recusar
- Reparar
- Reintegrar
Desperdício Zero: da invisibilidade à intencionalidade
Você já parou para pensar no que acontece com o seu lixo depois que você joga fora?
A pergunta até poderia ser retórica, mas tem uma resposta: na maioria das cidades, o destino do descarte ainda são aterros sanitários, principalmente em áreas mais remotas (e carentes).
Quando falamos em “jogar algo fora”, muitas vezes não paramos para pensar que, do ponto de vista ambiental, não existe um “fora”. Tudo fica no planeta. O conceito pode parecer um tanto filosófico à primeira vista, mas é facilmente corroborado por dados concretos.
Por exemplo, segundo o Tides Foundation, entidade filantrópica ligada à questões de sustentabilidade, cerca de 95% de tudo o que se consome na América do Norte vira lixo em até 1 ano.
Geralmente esse fluxo de descarte é realizado “no modo automático” e em decorrência do ritmo frenético de nossas rotinas diárias – ou pela falta de uma maior reflexão sobre o assunto.
O problema é que isso gera um fenômeno de “invisibilidade” acerca dos processos de tratamento dos resíduos que geramos diariamente. Talvez o pensamento seja de que há pessoas que sabem o que fazer com aquilo. Mas as respostas que temos até agora sobre como transformar esses resíduos não são suficientes.
A formação de um ciclo de produção, consumo, descarte e tratamento sustentável precisa ser mais consciente e intencional. Dessa forma, o mote do Desperdício Zero é criar consciência de tudo o que produzimos de lixo.
Precisamos negar o conforto existente no fato de colocarmos nosso lixo na porta e ele simplesmente sumir (apenas para colocarmos mais uma sacola amanhã e assim sucessivamente) para assumir uma posição ativa de influenciadores desse processo na tentativa de conter o desperdício e a degradação do meio ambiente.
Novas cadeias produtivas: a economia circular
Durante todo o século XX, o modelo econômico elevou os níveis de qualidade de vida de parte da população mundial. Mas dados indicam um problema: o crescimento populacional corre em velocidade maior do que a disponibilidade de recursos.
Nunca houve tanta gente inserida dentro da economia do consumo — até 2030, haverá mais de 2,5 bilhões de novos consumidores na classe média. Em meados de 2050, a população mundial consumirá, no mínimo, 3 vezes mais recursos do que hoje.
O problema é que gerir um sistema produtivo linear quando os recursos disponíveis no planeta são finitos é insustentável. E, caso o ritmo de consumo siga o mesmo, os recursos restantes no planeta serão insuficientes para absorver esse contingente
Nos últimos 30 anos, consumimos 33% dos recursos naturais do planeta. Isso demonstra uma incapacidade de sustentar esse modo de vida. Nesse contexto, repensar modelos é urgente.
A saída é construir uma nova estrutura produtiva que gere emprego e renda através da criação de uma cadeia de valor circular, na qual tudo o que se extrai precisa voltar para dentro desse círculo de alguma maneira.
Como aplicar a filosofia lixo zero
O Brasil é um dos países que mais produz lixo no mundo. Dados indicam que, só nas zonas urbanas, produzimos em média 78,3 milhões de toneladas de lixo por ano. E o pior é que só 3% desse montante é, de fato, reaproveitado.
A filosofia de lixo zero pode ser adotada em todas as esferas da sociedade. Nos últimos anos, o esforço coordenado entre empresas, poder público e cidadãos na tentativa de descobrir alternativas criativas para evitar o desperdício, frear o esgotamento de recursos não-renováveis e acelerar a recuperação de ecossistemas aumentou.
A ascensão do digital impulsionou uma mudança de paradigma importante: o surgimento de novos modelos de negócios baseados no acesso — e não na posse. Modelos que utilizam os processos de outras indústrias para abastecer a sua própria. Foi um sinal vindo diretamente das empresas sobre mudanças nessa lógica de cadeia de valor.
E, assim como as organizações devem realizar o accountability acerca do impacto ambiental de suas ações, o primeiro passo de uma conscientização em massa sobre desperdício é o entendimento de que Zero Waste também é um movimento individual. É preciso que haja uma tomada de consciência e intencionalidade acerca do consumo.
Em segundo lugar, é necessário entender que a melhor forma de dar um destino correto ao seu descarte é repensando a quantidade de lixo que você produz. Em uma primeira análise, você provavelmente terá dificuldades para entender o que é preterível. Com o passar do tempo, verá que tudo o que produzimos tem potencial para tornar-se lixo.
Por fim, é preciso fazer escolhas. Devemos estar prontos para priorizar o consumo para o que é realmente necessário, afinal, mesmo quando não desejamos mais um objeto, ele ainda precisa ir para algum lugar.
Confira algumas atitudes que podem auxiliar você em uma tomada de consciência gradual sobre sua produção de lixo:
- Usar ecobags, copos, canudos e outros itens reutilizáveis
- Eliminar ou reduzir ao máximo o uso de itens descartáveis
- Realizar manutenção e consertar eletrodomésticos e equipamentos
- Separar materiais recicláveis e orgânicos
- Dar preferência para embalagens menores – ou de vidro
- Dar preferência às compras a granel
- Comprar de pequenos produtores
Zero Waste: o futuro bate à porta
A sociedade avança e os valores mudam. Hoje, a forma como encaramos nossa responsabilidade acerca da manutenção de uma relação sustentável com o meio ambiente e os ecossistemas que nos cercam demonstra uma tomada de consciência importante.
Apesar do argumento de que a filosofia zero waste é impossível de ser aplicada no contexto urbano, ela tem sido, cada vez mais, uma realidade para diversas pessoas e famílias em todo o mundo.
E melhor: o movimento está fazendo parte de um novo estilo de vida, que contempla outras formas de não desperdício, um “framework” que reúne doses de do-it-yourself, minimalismo, cooperativismo e economia colaborativa.
Descobrir destinos criativos para o que antes era descartado será uma forte tendência na próxima década. A transformação não é simples, mas é um processo necessário para garantir a preservação de recursos para o futuro.
O futuro bate à porta. Mudanças climáticas acentuadas e a escassez de recursos naturais anunciam o colapso do sistema atual — de extração, produção, distribuição e consumo lineares. É preciso repensar toda a cadeia de valor. É por isso que clama o movimento Zero Waste. E você, o que está fazendo para evitar o desperdício?
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