Os próximos desafios da área de Logística e Supply Chain: o que a pós-pandemia desenha
O desafio do presente é construir o novo. Pode parecer romântico, mas é a mais pura verdade. E, acredite, isso já aconteceu em outros momentos da história.
O desconhecido e a vulnerabilidade são bem desconfortáveis. Por isso, momentos de transição, por vezes, são vistos como crises, deixando passar o potencial inovativo que carregam em si.
Para entender um pouco mais do que acontece (e pode acontecer) com a área de Logística e Supply Chain, vamos compartilhar alguns insights da nossa equipe de Design de Futuros e Inovação Antecipatória.
Próximo desafio: Logística e Supply Chain
O grande questionamento das áreas de logística e supply chain é o fato de ser muito mais barato para o mercado voltar para o modelo que estávamos antes: 30% do mundo produzia tudo na China para baratear o custo de operação.
Mas será que só um sim ou não para essa questão não é simplista demais? A resposta é sim.
Esse modelo que conhecemos é altamente dependente da globalização. Qualquer motivo que faça essa globalização parar – como uma pandemia – para o mundo também. Só que, nesse caso, ninguém pode descer.
Essa paralisação vai além da questão da economia local. Hoje, há a interrupção, quase que completa, da produção de bens e de recursos para produzir esses bens. Pelo menos nos moldes que estamos acostumados a ver: em larga escala e na China.
O que há na incerteza?
Compartilhamos as polaridades que identificamos na incerteza de como fica a logística e o supply chain nesse contexto de pandemia e também na pós-pandemia. Vamos lá!
POLARIDADE A
- Como garantir a higienização, saúde e a não contaminação dos bens em termos de envio de logística?
- Voltar para o modelo globalizado chinês – o mais barato até agora – que nos levou a uma série de problemas -, excesso de poluição, cidades supersaturadas, ineficiência no descarte de lixo, exploração de recursos -, é um futuro sustentável? Vale ressaltar que, antes mesmo do COVID-19, já era habitual encontrar pessoas usando máscaras nas ruas chinesas, a cidade já estava irrespirável.
POLARIDADE B
- A sociedade ficar com medo desse modelo de produção centralizado na China e buscar formas de trazer as indústrias para mais perto de casa, ou mesmo a busca por novos fornecedores locais de suprimentos e recursos.
O custo de trazer a produção para a casa será elevado, pois a infraestrutura ainda não está pronta e a sociedade está preocupada de passar por essa paralisação novamente. Porém, mesmo sendo caro, possibilitará a criação de novos empregos, ajudando a aquecer a economia no pós pandemia.
- Para complementar a escolha do futuro que você quer construir, vamos trazer algumas tendência bem relevantes quando a tarefa é repensar e ressignificar a forma mais sustentável para as operações de logística e supply chain.
Pontos de atenção: o que é importante anotar no caderninho
Economia Circular
Antes de começar a falar sobre essa economia mais consciente, vamos deixar algo bem claro: a economia circular não é contra o capitalismo nem advoga contra o lucro. Muito pelo contrário, há uma infinidade de oportunidades de negócio invisibilizadas pela lógica linear, que pensa apenas em core business – essa que nos trouxe até aqui.
A força motriz dessa estrutura está na capacidade de gerar impacto positivo na sociedade e no meio ambiente, enquanto negócios se desenvolvem e lucram. Bem resumidamente, a economia circular vai olhar para a forma que produzimos, consumimos e descartamos. Mas não pense que é somente isso, o que nós temos aqui é um mindset, uma nova Revolução Industrial.
Meio ambiente
Em média, os bens físicos que são consumidos têm apenas 5% da matéria prima utilizada para que eles fossem produzidos. Sim, é necessário 20 vezes mais insumo para que produtos estejam prontos para as prateleiras. É bem óbvio o que vamos falar aqui, mas é necessário: os recursos são finitos, e a sociedade está sentindo isso na pele.
Para escoar a produção do mundo, os sistemas de transportes aéreos, marítimos e terrestres são sobrecarregados, gerando cada vez mais poluentes.
Sem contar na luta para uma sociedade livre da escravidão do plástico – mais da metade das embalagens de todos os produtos do mundo são feitas do material. Estima-se que até 2050, haverá mais plástico do que peixes nos oceanos.
Novos modelos de negócio
A nova economia já está aí! Entender essa mudança é prioridade. Alguns spoilers do que deve ser repensado:
- A tecnologia é o epicentro. É ela que pode promover as disrupções necessárias para negócios assumirem a dianteira do seu mercado e até mesmos criarem novos mercados para liderarem.
- Caminhamos para o fim das concorrências feudais. Grande parte disso graças ao GAFA (Google, Amazon, Facebook e Apple), os 4 gigantes que ditam as regras do mercado quando o assunto é tecnologia de ponta e mimam seus usuários com experiências encantadoras.
Não há como escapar da migração para essa nova lógica:
- Mais ecossistema e menos empresa
- Mais abundância e menos escassez
- Mais horizontal e menos vertical
A cultura ganha bastante protagonismo também. É ela que faz a transformação acontecer. Afinal, ela carrega o jeito da empresa fazer, quando ninguém está na sala olhando. Sim, isso é DNA; cultura só no papel não muda nada.
Vale pensar em uma régua de transformação que nós leva da economia clássica à pós-digital.
- Economia Clássica: modelo piramidal. Ampla alta cúpula. Gestão mais centralizada – top down. Mais linear e industrial. Muitas já são digitalizadas, o que não quer dizer que rodam no mindset digital.
- Economia Digital: pequenas, enxutas, leves e inovadoras. Como são menores, contam com lideranças mais descentralizadas, o que proporciona muita eficiência. Automação e inteligência artificial alicerçam a gestão. A era das startups mudou bastante a cara das empresas e esse tipo de modelo de negócio não é nenhuma novidade.
- Economia Pós-digital: esse é o ponto de chegada da jornada de transformação de modelos de negócios, por enquanto. Aqui, temos empresas virtuais. Sim, elas existem se tem gente trabalhando; mas se não tem, não existem. Seu ciclo de vida também é diferente do que conhecemos: a alta cúpula investe durante um tempo e depois deixa o legado para a sociedade. Não há gestão, tudo é feito a partir de tecnologias emergentes, como blockchain.
Indústria 4.0
A Quarta Revolução Industrial é o fenômeno da adoção de ferramentas, recursos e serviços tecnológicos inovadores para otimizar a gestão dos mais variados aspectos industriais.
Isso inclui desde o design até a automação de processos de manufatura, passando pela cadeia de fornecimento, entre outros aspectos do cotidiano operacional e administrativo.
Especialistas apontam quatro grandes forças que impulsionam o movimento:
- Crescimento surpreendente do volume de dados (Big Data)
- Surgimento de ferramentas, recursos e métodos para análise de dados
- As inovadoras possibilidades de interação homem-máquina
- Aprimoramentos da transferência de instruções digitais para o mundo físico
Perceba que não se trata simplesmente de implementar ferramentas para automatizar os processos de negócios. É algo muito mais profundo e superior à simples automatização.
Propósito
A era da experiência do usuário ganha mais relevância ainda em tempos de transição. O consumidor segue mais consciente do que nunca.
A busca por vínculos cada vez mais alinhados com valores mais sensíveis abre precedentes para questionamentos, como “o que as empresas fazem de relevante para o mundo?”.
Surge a necessidade de ultrapassar as barreiras da própria organização e se comprometer com uma missão que impacte o mundo de forma positiva.
Novo Consumidor
Há um tempo, os consumidores exigem mais das marcas em troca do seu coração (e do seu dinheiro, claro!). Produtos e serviços sozinhos não são suficientes para desenvolver um negócio lucrativo e sustentável durante muito tempo.
Cada vez mais, os clientes tendem a rejeitar o genérico, os produtos massificados, têm consciência do impacto negativo que o consumo exacerbado causa no mundo e já buscam consumir dos pequenos produtores que estão no seu entorno.
O motivo disso já falamos aqui. Ele mora exatamente em quatro letras: GAFA. O modelo nada mais é do que o efeito causado na sociedade pelo grupo Google, Amazon, Facebook e Apple. Os quatro gigantes da tecnologia acostumaram seus usuários a terem qualquer coisa na palma da mão: com apenas um clique na tela de um smartphone.
Soluções para o futuro da Logística e Supply Chain
O momento pede um novo olhar para o futuro — preferencialmente de forma otimista. Pensar nele e em como podemos construir futuros bem mais desejáveis e alinhados com com valores mais sensíveis que passam a fazer, cada vez mais, parte da nossa vida.
Se você quiser cocriar futuros para sua área de logística e supply chain, listamos alguns passos que podem te ajudar muito.
Construir conhecimento
Qualquer que seja a sua escolha, é preciso mergulhar fundo e entender a mudança que sua empresa terá que fazer para operar nesse novo modelo. Identifique quais tecnologias podem potencializar seus processos e fortaleça ou até crie a cultura do seu negócio.
A tecnologia é o epicentro. É ela que pode promover as disrupções necessárias para negócios assumirem a dianteira do seu mercado e até mesmos criarem novos mercados para liderarem.
Ecossistema de fornecedores é algo vital para o core business de produção. Hoje, a maioria deles estão na China. Mas trazer toda a sua produção, ou parte dela, para perto de você vai demandar uma carteira nova de fornecedores.
A Inovação Aberta é um método de colaboração externa que pode ajudar bastante com essa tarefa.
- Permite que indústrias e empresas promovam ideias, pesquisas e processos abertos para desenvolver soluções inovadoras
- Promovem acesso a mercados e públicos onde os parceiros têm mais aderência e a empresa tem participação limitada
- Possibilitam novas oportunidades comerciais através de atividades de P&D não exploradas internamente por falta de know-how até chegarem à redução do tempo e custo de produtos e serviços
Dados
Fábricas direcionadas por dados, essa é a Indústria 4.0.
O caminho é:
- Investir em tecnologia para aumentar produtividade
- Reduzir custos de manutenção de equipamentos e consumo de energia
Você deve estar se perguntando o que justifica esse investimento todo? O aumento da eficiência do trabalho.
A Internet das Coisas se torna fundamental para garantir a habilidade dos sistemas ciber-físicos (suporte de peças, estações de montagem e produtos), das pessoas e das fábricas inteligentes se comunicarem entre si.
Ela possibilita, com todos os dados coletados, a melhoria dos processos e tomadas de decisão em momentos-chave, como esse que vivemos agora.
Governança de Dados
A Governança de Dados é o exercício de autoridade e controle (planejamento, monitoramento e fiscalização) sobre o gerenciamento de ativos de dados.
A falta de governança efetiva de dados dentro de uma empresa garante uma coisa: a existência de dados ruins, que criam uma base de informações cheia de insights equivocados. Esses dados se manifestam em definições inconsistentes, duplicatas, campos ausentes etc.
Quando chegará o novo?
Zygmunt Bauman chama esse trânsito que vivemos de tempos de interregno. Estamos entre o que não é mais e o que não é ainda. O modelo velho já não nos serve mais e o novo ainda não está pronto.
Mas fique tranquilo! Acreditamos que muitas coisas vão mudar para melhor dentro desse cenário caos e colapso. Para isso, são necessárias disciplina e resiliência para sustentar essas transições até que estejamos totalmente adaptados.
Sabemos que construir esse novo normal é um desafio muito grande. Pode ser que não seja fácil, mas é possível. Para isso, nós da MJV temos feito um grande exercício de pensar em como podemos aprender e fazer juntos essas transformações. Estamos debruçados em um projeto muito extenso que chama-se Pós-Normal.
Dessa forma, estamos trazendo todas as implicações do que significa o Covid-19 em diversas áreas para tentarmos entender quais são as novas formas de organização que podem surgir a partir da sua disseminação.
Aproveitamos para deixar aqui um convite. Vamos construir juntos o novo normal? Antes que construam para nós.
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